Adoçantes Artificiais: Devo ou não indicar aos pacientes?

Recentemente, a mídia veiculou várias matérias sobre o consumo de adoçantes artificiais e o surgimento de eventos adversos à saúde no longo prazo, especialmente câncer, a partir de uma recomendação da Organização Mundial de Saúde (OMS) para que as pessoas evitem alimentos e bebidas que os contém. A própria Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) informou que vai avaliar, junto ao Ministério da Saúde e demais entes do governo, além de atores não governamentais, a nova diretriz da OMS sobre adoçantes sem açúcar

Eu fui muito questionado por alunos e pacientes sobre a veracidade dessas informações e qual seria a minha opinião. Então, vamos lá!

De início, é importante entendermos o que são adoçantes artificiais.

Adoçantes artificiais são substâncias sintetizadas quimicamente usadas no lugar da sacarose (açúcar de mesa) para adoçar alimentos e bebidas. Como os adoçantes artificiais são muitas vezes mais doces que o açúcar de mesa, quantidades muito menores (200 a 20.000 vezes menos) são necessárias para criar o mesmo nível de doçura. O conteúdo calórico dos adoçantes usados em quantidades tão pequenas é insignificante.

Seis adoçantes artificiais são aprovados como aditivos alimentares pela Food and Drug Administration (FDA) dos EUA: sacarina, aspartame, acessulfame de potássio (acessulfame-K), sucralose, neotame e advantame. Antes de aprovar esses adoçantes, a FDA revisou vários estudos de segurança realizados em cada adoçante para identificar possíveis danos à saúde. Os resultados desses estudos não mostraram evidências de que esses adoçantes causem câncer ou outros danos às pessoas. Além disso, a FDA considera três adoçantes de alta intensidade à base de plantas ou frutas como geralmente reconhecidos como seguros para uso como adoçantes nos Estados Unidos: estévia, luo han guo (também conhecido como fruta Swingle ou extrato de fruta monge) e taumatina. No Brasil, são permitidos Sacarina, Ciclamato, Aspartame, Acessulfame-K e Sucralose. À base de plantas ou frutas, são permitidos Stévia, Taumatina e Eritritol.

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Preocupações sobre adoçantes artificiais e câncer surgiram inicialmente quando estudos relacionaram a combinação de ciclamato mais sacarina (e, em menor grau, ciclamato sozinho) com o desenvolvimento de câncer de bexiga em animais de laboratório, particularmente ratos machos.

Como resultado dessas descobertas, o ciclamato foi banido dos Estados Unidos em 1969. Embora análises posteriores desses dados experimentais e avaliação de dados adicionais tenham levado os cientistas a concluir que o ciclamato não causa câncer, ele não foi novamente aprovado nos Estados Unidos (embora seja aprovado em muitos outros países).

Estudos de laboratório também relacionaram a sacarina em altas doses com o desenvolvimento de câncer de bexiga em ratos e, em 1981, a sacarina foi listada no Relatório do Programa Nacional de Toxicologia dos EUA sobre Carcinógenos como uma substância razoavelmente considerada carcinógena humana. No entanto, estudos mostraram que as maneiras pelas quais a sacarina causa câncer em ratos não se aplicam a humanos e, em 2000, ela foi removida da lista

A maioria dos estudos dos outros cinco adoçantes artificiais aprovados não forneceu evidências de que eles causam câncer ou outros efeitos adversos à saúde em animais de laboratório.

O que os estudos mostraram sobre possíveis associações entre adoçantes artificiais específicos e câncer em pessoas?

Estudos examinaram possíveis associações entre a ingestão de adoçantes artificiais e os riscos de vários tipos de câncer em humanos. É importante ter em mente que estudos desse tipo não podem estabelecer relações de causa e efeito porque outros fatores além do uso de adoçantes artificiais podem potencialmente explicar as associações observadas.

A maioria dos estudos tem usado o consumo de bebidas adoçadas artificialmente como um substituto para (ou seja, uma forma de os pesquisadores estimarem) a ingestão de adoçantes artificiais. Tais estudos não encontraram evidências ligando o consumo de bebidas adoçadas artificialmente com câncer em pessoas.

Apenas alguns estudos avaliaram a ingestão de adoçantes artificiais de todas as fontes alimentares, em vez de usar uma fonte alimentar. Em 2022, um desses estudos – o estudo de coorte NutriNet-Santé – relatou a incidência de câncer em mais de 102.000 adultos franceses que completaram, várias vezes durante o estudo, registros alimentares de 24 horas que incluíam os nomes e marcas de todos os produtos alimentícios comerciais que consumiam. Esses registros dietéticos detalhados permitiram aos pesquisadores estimar a ingestão total de todos os adoçantes artificiais combinados.

Após um acompanhamento médio de cerca de 8 anos, aqueles que consumiram adoçantes artificiais tiveram uma probabilidade ligeiramente maior de desenvolver câncer do que aqueles que não consumiram adoçantes artificiais. Em particular, as pessoas que consumiram quantidades maiores de todos os adoçantes artificiais combinados tiveram chances 13% maior de desenvolver câncer do que aquelas que não consumiram adoçantes artificiais.

Mas, qual seria a dose? Infelizmente esse estudo não trouxe um número exato. Os consumidores foram divididos em três grupos, sendo: 1. Não consumidores, 2. Pequenos consumidores, 3. Grandes consumidores. Esses dois grupos de consumidores foram divididos pela mediana de consumo. Por ex. se a mediana de consumo foi Xmg/dia, pequenos consumidores são aqueles abaixo de Xmg e grandes aqueles acima de Xmg.

Neste grande estudo de coorte, os adoçantes artificiais (especialmente aspartame e acessulfame-K), que são usados ​​em muitas marcas de alimentos e bebidas em todo o mundo, foram associados ao aumento do risco de câncer.

Então, para finalizar, acredito que não devemos condenar integralmente os adoçantes artificiais pois eles podem ser úteis em algumas situações, mas, é importante que aconselhar nossos pacientes que os adoçantes artificiais estão muito espalhados nos alimentos industrializados e quanto menos consumi-los, melhor! O ideal é que a gente consiga convencer os nossos pacientes a ingerir alimentos com o seu sabor natural, a exemplo de sucos, cafés e chás. Sempre que for muito necessário adoçar alguma preparação, considerar qual será menos maléfico para aquele paciente, levando em conta os objetivos do tratamento nutricional, patologias presentes e demais alimentos no cotidiano.

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