A estreita relação entre Nutrição e Autismo

O autismo é um transtorno do desenvolvimento que afeta a comunicação, interação social e comportamento. Estudos científicos têm demonstrado que crianças com transtorno do espectro autista (TEA) apresentam uma maior probabilidade de terem comportamentos alimentares restritivos e seletivos, além de apresentarem uma maior sensibilidade a determinados tipos de alimentos.

Uma das principais razões para isso é a hipersensibilidade sensorial, que é comum em crianças com TEA. Essa hipersensibilidade pode afetar a textura, sabor e cheiro dos alimentos, tornando alguns deles intoleráveis para a criança. Além disso, crianças com autismo podem ter dificuldades em processar informações sensoriais, o que pode afetar a forma como elas percebem a comida.

Outro fator que pode influenciar os comportamentos alimentares é a rotina e a previsibilidade. Crianças com autismo tendem a sentir-se mais seguras quando seguem uma rotina previsível, e isso pode se estender para a alimentação. Por isso, mudanças na dieta ou na forma de preparar os alimentos podem ser difíceis para elas.

Nos últimos anos, tem havido um crescente interesse em estudar a relação entre a microbiota intestinal e o autismo. Acredita-se que a microbiota intestinal possa desempenhar um papel importante no desenvolvimento e na progressão do TEA.

Vários estudos têm mostrado que as crianças com autismo têm uma microbiota intestinal diferente daquelas sem autismo. Essas diferenças incluem uma menor diversidade de bactérias benéficas e um aumento de bactérias patogênicas. Além disso, estudos em animais mostraram que a alteração da microbiota intestinal pode afetar o comportamento social e a comunicação.

A suplementação de probióticos, que são bactérias benéficas para o intestino, tem sido estudada como uma possível terapia para o autismo. Vários estudos clínicos mostraram que a suplementação de probióticos pode melhorar os sintomas do autismo, incluindo a comunicação social, o comportamento e a interação social. No entanto, os resultados desses estudos são contraditórios e muitos são pequenos e de curta duração.

Embora a suplementação de probióticos possa ser uma terapia promissora para o autismo, é importante lembrar que o autismo é um transtorno complexo e multifatorial. A abordagem terapêutica deve ser individualizada e considerar todos os fatores envolvidos no desenvolvimento e progressão do autismo. Mais estudos são necessários para entender melhor a relação entre a microbiota intestinal e o autismo e determinar o papel da suplementação de probióticos na terapia do autismo.

Por fim, estudos também têm apontado que crianças com podem apresentar deficiências nutricionais, que podem afetar seu desenvolvimento e saúde geral. Estudos têm mostrado que crianças com TEA têm maior probabilidade de apresentar deficiências de nutrientes como vitamina D, ferro, zinco, selênio, ácido fólico e ômega-3.

Uma das principais razões para essas deficiências é a seletividade alimentar, que é comum em crianças com TEA. Eles podem ter preferências alimentares restritas, o que pode levar à ingestão inadequada de nutrientes. Além disso, algumas crianças podem ter problemas gastrointestinais que afetam a absorção de nutrientes.

A correção dessas deficiências nutricionais pode ser alcançada através de uma dieta equilibrada e suplementação. A suplementação de vitamina D, ferro, zinco e selênio pode ser recomendada para corrigir essas deficiências. A suplementação de ácido fólico também pode ser benéfica, pois estudos mostram que crianças com TEA têm níveis mais baixos de ácido fólico.

Além disso, a suplementação de ômega-3 tem sido estudada como uma terapia potencial para o TEA. Estudos mostram que crianças com TEA têm níveis mais baixos de ácidos graxos ômega-3 no sangue e que a suplementação de ômega-3 pode melhorar os sintomas, incluindo a comunicação social e o comportamento.

No entanto, é importante lembrar que a abordagem terapêutica deve ser individualizada e considerar todos os fatores envolvidos no desenvolvimento e progressão do TEA. A correção das deficiências nutricionais deve ser feita sob a supervisão de um profissional de saúde qualificado e deve ser combinada com outras terapias, como terapia comportamental e ocupacional.

Em resumo, crianças autistas podem apresentar comportamentos alimentares restritivos e seletivos devido a hipersensibilidade sensorial, dificuldades em processar informações sensoriais e a necessidade de rotina e previsibilidade. Além disso, elas podem estar em risco de deficiências nutricionais. É importante que os pais e cuidadores dessas crianças estejam cientes desses fatores e trabalhem com um profissional de saúde para garantir uma alimentação saudável e equilibrada.

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